[Coluna] “Seu” Manoel de Paiva – um gigante na memória da cidade

Por: Kátia Maria Nunes Campos

Não me lembro se publiquei artigo sobre este nobre ouro-pretano, aqui no jornal. Se isso já aconteceu, eu não me importo em repetir, porque Seu Mané merece todas as honras, boas e lembranças que eu puder dedicar a ele. Ainda será pouco. De todos ouro-pretanos de estatura superior que tive o privilégio de conhecer, mesmo à distância geracional (ele foi amigo de família e, mais particularmente de minha avó), Seu Manoel de Paiva terá sido o mais notável de meus ídolos da pesquisa em história.

Sem ele, mais da metade do que já se escreveu e se sabe da história de Ouro Preto, das irmandades, dos inconfidentes e do Aleijadinho, nada seria possível sem ele, ao longo do século XX.

Ele era o senhor absoluto dos códices antigos, terra de seu domínio inconteste. 

Francisco Lopes, Silvio de Vasconcelos, Cônego Raimundo Trindade, e mais uma dezena de autores de primeira linha se apoiaram nele para as fontes primárias. Incluindo Germaine Bazin, curador do Museu do Louvre ao falar do Aleijadinho. 

Manoel de Paiva virou verbete de dicionário especializado, com a autoridade de um scholar, que nada importou se não passou pela universidade. 

Era também era o decano das principais irmandades, secretário da maioria (senão de todas) com uma belíssima letra. Sei que ele salvou muitos documentos, escondendo-os de um falso pesquisador que queria negar a existência do artista Aleijadinho. Como era funcionário da criatura, tapeou o cara queimando jornais velhos, como me contou seu neto, Carlos Magno de Paiva.

Nas festas dos padroeiros, lá ia minha avó para sacristia (sempre comigo a tiracolo), pagar os anuais que venciam no mesmo dia. E ele recebia a gente com o calor de velho amigo. Para a maioria das pessoas de hoje, ele é só nome de rua. Parece ter sido esquecido. Foi não!

Para mim ele foi real, de carne e osso, que me parecia enorme e sempre elegante em seu impecável terno.

Que pena que, na época, eu não sabia que ele fosse tão maior do que já me parecia e que eu pudesse, hoje, levar as minhas dúvidas e questões de pesquisa. 

Mas ainda usufruo de sua sabedoria quando recorro a outros autores, onde ele se esconde nas notas de rodapé. 

Foi e tem sido meu mestre, em muitas pesquisas sobre tudo que se refere a Ouro Preto. Sua sombra silenciosa percorre as páginas da minha tese de doutorado. Como não ser grata?. Senhor Manoel de Paiva de Ouro Preto, minha gratidão e respeito incondicional.