Por: Kátia Maria Nunes Campos

Um episódio histórico desconhecido pela população da cidade de Ouro Preto, foi a expulsão dos franceses da cidade do Rio de Janeiro, ocorrido no primeiro ano de sua fundação, em 1711. Vila Rica já nasceu patriota e imbuída do sentimento de pertencimento a uma nação soberana. Embora fosse sua colônia, Portugal não protegeu o Brasil. Os brasileiros protegeram o Brasil contra franceses, espanhóis e holandeses.


Aliás, foram os mineiros que expulsaram os franceses por duas vezes seguidas, reunindo uma força de cerca de 15.000 homens que se reuniram e partiram para o Rio de Janeiro, assim que foi noticiada a invasão. E a nossa Vila Rica foi parte substancial da força de defesa, descendo a serra na carreira e arrebanhando gente pelo caminho.


Aliás, alguns historiadores do tema relatam que os portugueses já sabiam das invasões e se mostraram incapazes de armar a defesa da cidade. Na segunda leva da invasão, os franceses entraram na baía de Guanabara com uma armada de 19 navios, em setembro de 1711. É o que relata Louis Chancel de La Grange, capitão de fragata da nau L’Aigle, um dos navios que constituíram a expedição de curso de Duguay-Trouin.


A população carioca acusou seus governantes de covardia, mas a mineirada não ficou quieta. Sem tempo para se preparar devidamente, foram confiscando ou comprando fiado os mantimentos, pelo caminho, nas mãos dos lavradores. Dias depois, a Câmara, mal tinha sido criada, já assumira o pagamento aos lavradores. Os ouro-pretanos de hoje se esqueceram, mas a História guardou o registro desse “regimento”, nas páginas do primeiro livro de atas da Câmara, copiado integralmente.


“Aos seis dias do mês de outubro de mil setecentos e onze anos, nesta Vila Rica de Albuquerque em as casas donde se costuma fazer a vereação aí pelo oficiais da Câmara foi acordado o seguinte:


Acordaram que por ser necessário mandarem-se alguns mantimentos de milho e feijão para sustento da gente que destas Minas foi em socorro para o Rio de Janeiro para a expulsão do inimigo que naquela praça se tomaram quantidade de milho e feijão aos roceiros do campo das Minas Gerais e porque o preço comum e geral de cada alqueire de milho é de duas oitavas e o alqueire de feijão é de três oitavas mandaram escrever este acórdão para tirar a dúvida que se podia mover ao tempo do pagamento para a declaração do dito preço.
E por este modo houveram esta vereação por feita e acabada de que fiz este termo em que todos assinaram. E eu, Jorge da Fonseca Freire, escrivão da Câmara o escrevi.
(Rubrica) Melo – Mascarenhas – Pimentel – Costa”


Digam lá, não é para nos orgulharmos do nosso minúsculo município desse imenso Brasil? Eita, nóis, uai e viva Ouro Preto, sempre!!!

Foto: Luccas Castro