Na última quinta-feira, 21/06, estive na presença do ator Tony Tornado, um ícone da música, da TV e do cinema brasileiro. Durante a Coletiva, o artista de 93 anos contou muito da sua trajetória de vida e de experiência profissional. Não vou aprofundar na relação de trabalho do artista com a Globo, onde está desde 1975, mas vou dizer sobre como a passagem de Tony em Ouro Preto sacudiu com a minha forma de ver a realidade, inclusive profissionalmente.
Tony Tornado foi o grande homenageado da Mostra de Cinema de Ouro Preto 2023 (18ª CINEOP), segundo ele isso representa a conquista de todo um trabalho, mas repetiu várias vezes “não sei se sou merecedor”. Esbanjando humildade e vitalidade, o ator que está no ar na novela das 18h da Tv Globo, disse estar de verdade muito feliz com a homenagem, e que a importância de tal reconhecimento “é para que você tenha o quê mostrar como um fato relevante na sua vida.” Tornado disse ter ficado emocionado e surpreso também por terem lembrado dele para uma homenagem, disse não estar acostumado em ser homenageado.
Uma das frases mais marcantes ditas por Tony Tornado na ocasião foi sobre o quão profissional ele sempre se propôs a ser, “eu fiz TV preto e branco pô, meu personagem era ladrão, eu fiz muito bandido mas fiz com profissionalismo… não conheço ninguém que tenha mais amor à profissão que eu, talvez igual.”
Dos personagens dos filmes em que ele participa exibidos na Mostra, Tony destacou Ganga Zumba, do filme “Quilombo” de Cacá Diegues (1984), presente na “Mostra Homenagem” parte da programação da 18ª CINEOP. Segundo Tony, o personagem histórico, foi para ele o personagem central na história do Quilombo dos Palmares. O filme retrata, em torno de 1650, um grupo de escravos se rebela num engenho de Pernambuco e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde uma nação de ex-escravos fugidos resiste ao cerco colonial. Entre eles, está Ganga Zumba (Tony Tornado), príncipe africano e futuro líder de Palmares.
O que mais me marcou foi a lucidez de Tony ao afirmar que todos os problemas que enfrentou em sua trajetória apenas fez com que ele se colocasse e ocupasse os espaços com toda dedicação. Alguns exemplos de desafios na trajetória do ator foram ser exilado, ver um colega branco ser pintado de preto para a novela “A Cabana do Pai Tomás” que estreou em 1969, pois afirmavam que não havia um ator negro na ocasião, o que machucou o artista o fazendo se emocionar inclusive na coletiva.
Tony disse que inclusive ter feito o papel de capitão-do-mato em “Sinhá Moça” (1986), gerou desconforto entre os colegas e com o público, mas considera que foi importante pela representação da história do Brasil, em suma o quê motivava, e ainda motiva, o ator era o dever de estar presente e ser visto, ser profissional e atuar com perfeição.
No fim do encontro Tony Tornado foi muito atencioso e recebeu muito carinho dos jornalistas e de fãs, eu ganhei um “beliscão/aperto de mão no antebraço.” A partir desse momento comecei a refletir e percebi que o centro da discussão e do discurso dele, foi dizer, inclusive com os gestos, que nós a partir de agora não podemos deixar de nos valorizar e não nos propor a dar o melhor que podemos, pois afinal ele faz isso há quase um século.
Por Luccas Castro
Foto: Marcelino de Castro