A farsa, envolvendo o nome da UNESCO, chegou a ser amplamente divulgada por grandes veículos da imprensa nacional


Victor Stutz, para o Diário de Ouro Preto

Foi confirmada hoje, 3 de janeiro de 22, a suspeita lançada em matéria publicada pelo Diário de Ouro Preto sobre a autenticidade do título de Patrimônio Imaterial da Humanidade concedido à obra musical conjunta de Fernando Brant e Tavinho Moura, pela Unesco.

Os mais conceituados veículos de comunicação de Minas deram destaque para a notícia, que se espalhou ainda nas redes sociais. Uma das maiores emissoras nacionais de TV chegou a dedicar 4 minutos na sua programação jornalística para exaltar o falso título atribuído aos compositores mineiros. Apenas o Jornal O Estado de Minas publicou, mas, em seguida, retirou a informação falsa de suas páginas e, hoje, se retratou. A farsa circulou ainda no site institucional da SECULT, a Secretaria de Estado de Cultura do Governo de Minas Gerais.

Nós, do Diário de Ouro Preto, que sempre buscamos apurar em fontes confiáveis qualquer notícia antes de publicar, por não termos conseguido confirmação junto aos canais oficiais, chegamos a lançar o alerta (leia a matéria aqui). Em seguida, entramos em contato com UNESCO BRASÍLIA, que confirmou nossas suspeitas.

Eis a resposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura:

UNESCO Brasilia
03/01/2022
Para O Diário de Ouro Preto

Em relação às informações divulgadas por alguns meios de comunicação e em redes sociais na última semana, sobre a suposta inclusão da obra musical dos artistas Fernando Brant e Tavinho Moura na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização esclarece que, a despeito da relevância e da importância do trabalho musical dos artistas mineiros:

A notícia não é verdadeira. Jornais e sites receberam um documento falso, com a logomarca da UNESCO e a assinatura do diretor-geral adjunto de Cultura da Organização, sr. Ernesto Ottone, que foram utilizadas sem autorização.

O documento cita o nome de Lucas Guimaraens como embaixador da UNESCO. Essa informação é falsa. A referida pessoa não é embaixadora da UNESCO.

A Organização destaca que a inclusão de um bem na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade não é uma decisão unilateral de um Estado-membro. Tal inclusão segue um procedimento definido pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO. Cada Estado-membro do Comitê prepara uma lista tentativa de práticas e expressões culturais em seu território, que representem a diversidade do patrimônio imaterial e contribuam para uma maior consciência sobre sua importância. Cabe salientar que essa é uma atribuição do governo de cada Estado-membro. Anualmente, o referido Comitê Intergovernamental avalia as candidaturas dos Estados-membros e decide sobre novos bens a serem incluídos na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

A última reunião do Comitê ocorreu em novembro de 2021. A obra musical dos artistas mencionados não constava na lista de avaliação do Comitê. A lista com os bens já inscritos na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO pode ser encontrada no seguinte link: https://ich.unesco.org/en/lists (em inglês).

A UNESCO lamenta e repudia a disseminação de qualquer informação ou notícia falsa. A Organização lidera iniciativas nesse sentido: recentemente, com o apoio de especialistas, pesquisadores e profissionais de comunicação, lançou o manual “Journalism, Fake News & Desinformation”, com o objetivo de somar esforços no combate à desinformação e orientar jornalistas sobre as práticas de investigação de alta qualidade. A publicação pode ser acessada aqui: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000265552

Com o avanço da COVID-19 nos últimos dois anos, a UNESCO conduziu outra ação de combate à desinformação durante a pandemia. Uma parceria com o Instituto Serrapilheira e a Agência Lupa produziu conteúdos analíticos para a Folha de S.Paulo e o portal UOL, a partir da checagem de dados na plataforma CoronaVerificado. A base de checagens organizou informações verificadas por sites e agências de fact-checking em toda a América Latina, além da Espanha e de Portugal.

A UNESCO está apurando a origem do material falso mencionado anteriormente, que cita sem autorização a Organização, bem como tomará as providências cabíveis para responsabilizar os autores do documento.

Atenciosamente,

Unidade de Comunicação da UNESCO no Brasil