
Victor Stutz, para o Diário de Ouro Preto
As chuvas que castigaram Minas causaram inúmeras perdas, inundando os corações dos mineiros e dos brasileiros com sentimento de tristeza. Foram muitos os transtornos e prejuízos provocados pelo período chuvoso intenso que marcou o início de 2022, mas, obviamente, nada se compara à angústia maior pelas vidas que foram perdidas.
Na histórica Ouro Preto, além de todos esses estragos, os efeitos das chuvas de janeiro causaram um outro tipo de dano: a perda de um fragmento romântico da nossa memória. A cidade assistiu, espantada, o Solar Baeta Neves desabar.
E o desastre que soterrou o casarão histórico e outras edificações, só não ganhou proporções maiores graças à ação sagaz de uma jovem marianense, Paloma Magalhães, estudante de Engenharia Urbana na UFOP e integrante da equipe de Defesa Civil de Ouro Preto. Alertada por um morador do bairro Pilar, Pedro Bittencourt, sobre os sinais preliminares do desmoronamento do Morro da Forca, nesta quinta-feira, 13, pela manhã., Paloma não hesitou em providenciar imediatamente o isolamento da área, acionando também a Guarda Municipal, Ourotran e a Polícia Militar. Sua decisão naquele momento evitou que o pior acontecesse, pois o local é de intensa movimentação de carros, ônibus e, principalmente, pessoas.
Juscelino Gonçalves, secretário da Defesa Civil fez questão de destacar a atuação brilhante da jovem: “Com percepção aguçada, a agente Paloma Magalhães agiu rapidamente e tomou as providências necessárias, acionando a Guarda Municipal e Ourotran, isolando a área e retirando todas as pessoas da rota de colisão da massa de terra que desceu”.
O SOLAR PERDIDO
Localizado na Praça da Estação, o sobrado em estilo colonial que ruiu foi erguido em terreno bem próximo à Estação Ferroviária, região que mais se desenvolvia em Ouro Preto antes da transferência da capital para Belo Horizonte. O terreno foi adquirido pela tradicional família Baeta Neves em 1890, daí a origem da denominação. Sua construção só ocorreu em 1906, com arquitetura inspirada nos mesmos traços das construções da antiga Vila Rica. Em 1991, o imóvel foi adquirido pelo município para instalação de uma unidade de ensino e, mais tarde, abrigou a sede da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Devido a problemas estruturais e de conservação, o casarão estava fechado e era alvo de estudos de revitalização para implantação de um novo projeto.
O maciço rochoso que desmoronou hoje é o mesmo que teve sua encosta cortada na base para construção do Solar Baeta Neves, no início do século XX, e a possibilidade do desastre acontecer já havia sido prevista por geotécnicos atuais. Já se sabia que intervenções para estabilização da encosta eram necessárias e urgentes. A secretária de Cultura e Patrimônio Margareth Monteiro conta que “o Solar dos Baetas estava localizado numa área inserida no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Encostas, um programa do governo federal com recursos que podiam, mas não foram buscados no passado”, e lamentou, “é muito triste essa perda desse pedaço importante da nossa história”.
