Ouro Preto sempre deu audiência e na última semana foi de “imprensa nacional”, com helicóptero da Globo e tudo rodando em cima do morro da Forca, até que o prefeito falasse com a emissora. Teve jornal Nacional, com vídeo do deslizamento, imagens do ouro-pretano Peterson Bruschi. A cidade Patrimônio Cultural da Humanidade sendo comentada por todo país. A comoção é geral, todos defendem o patrimônio histórico efusivamente, mas depois tudo vira esquecimento.


Quem se lembra das labaredas do Pilão, corroído pelas chamas com o hidrante seco? Quem se lembra do caminhão que quebrou o chafariz do Pilar, quem se lembra da senhora que agonizou até a morte, prensada na parede do Ministério Público, num acidente na Rua das Flores? Tudo cai no esquecimento.

O Solar do Baêta Neves, causou comoção, muitos ouro-pretanos ausentes e presentes deixaram suas mensagens de pesar pela perda do patrimônio. Mas com o imóvel fechado há 10 anos, por qual motivo os comovidos não questionaram? Não pediram para que o prédio fosse desmanchado para se resolver a encosta? Não pediram diligência do Município para saber se no imóvel em risco havia documentos e objetos que poderiam ter sido retirados? Não acionaram o Ministério Público? 

Cá pra nós, será que em 1890, quando o terreno foi adquirido não havia nenhuma recomendação, nem precisava ser legislação, algum tipo de ordenamento para se construir na capital do estado?  Afinal, naquele momento Ouro Preto era a capital de Minas.

Será que com a gloriosa Escola de Minas já em funcionamento, ninguém questionou que uma montanha cortada, poderia sofrer abalos e com as intempéries poderia sofrer danos ao longo do tempo? A região era próspera e diante da Estação de Trem, será que não houve nenhum favorecimento político para se ocupar esse terreno?  

Por mais rica em detalhes que seja a casa, ela foi construída em local de risco. Ou será que o preconceito da época acreditava que na área nobre da cidade não há risco?

Hoje são 16/01/22, temos muitas pessoas desabrigadas, desalojadas e outras com medo de trincas e rachaduras. Muitas sem água, sem acesso por estradas, com lixo juntando pela cidade. Será que essa Ouro Preto não causa comoção? Será que ninguém questiona a necessidade do Município ter concurso público para ter mais agentes na Defesa Civil e em outras áreas? Quantas questões a serem respondidas.

Será que todas as pessoas que estão em área de risco, recusam ir morar em outras localidades, caso houvessem loteamentos em distritos com áreas menos íngremes e até planas, lá essa população não seria mais feliz? Com a Universidade que gera conhecimento, ninguém nunca pediu à Faculdade de Engenharia Civil auxílio para o déficit habitacional? Será mesmo que há preocupação com a Ouro Preto dos ouro-pretanos, ou com a Ouro Preto dos gringos? Em seu poema Manoel Bandeira fala justamente das casinhas de taipa, que correm risco, diferente dos monumentos famosos no mundo inteiro! O poema da década de 50 é super atual, lembra até do casarão do Vira-Saia, que caiu um parte outro dia. A diferença do tempo atual apenas mudaram algumas das ostentações apresentadas por Bandeira.

A MG-129 virou briga política, com deputados intervindo no DER pela liberação da pista, a pedido do suplente, Giovane Mapa, na sexta-feira, que não assumiu a cadeira na Câmara. Mas colocou seu empenho na liberação da estrada. E aí foram vídeos de deputados, secretários e tudo isso servirá, claro, para cobrarmos o empenho na liberação de recursos para refazer a estrada, vi com meus próprios olhos, desceu muita terra, o que aconteceu no morro da forca é fichinha, diante do rombo na estrada.

Ocorre que para refazer a pista precisará de muitos recursos e muitas horas de trabalho, será necessário muito apoio político, e por isso, lembramos do poeta Manoel Bandeira, pois é hora dos amigos e dos inimigos se unirem em prol de Ouro Preto, deixando a política de lado, mesmo em ano eleitoral, pois muita há por fazer.

Atenção, a  Chuva retorna hoje à tarde e segue durante toda a semana,  é a previsão do Centro de Previsões de Tempo e Climáticas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.  

Por Marcelino de Castro
Foto: Peterson Bruschi

Minha gente, salvemos Ouro Preto

“As chuvas de verão ameaçaram derruir Ouro Preto.

Ouro Preto, a avozinha vacila.

Meus amigos, meus inimigos,

Salvemos Ouro Preto.

Bem sei que os monumentos veneráveis

Não correm perigo.

Mas Ouro Preto não é só o Palácio dos Governadores,

A Casa dos Contos,

A Casa da Câmara,

Os templos,

Os chafarizes,

Os nobres sobrados da Rua Direita.

Ouro Preto são também os casebres de taipa de sopapo

Agüentando-se uns aos outro ladeira abaixo,

O casario do Vira-Saia,

Que está vira-não-vira enxurro,

E é a isso que precisamos acudir urgentemente!

Meus amigos, meus inimigos,

Salvemos Ouro Preto.

Homens ricos do Brasil

Que dais quinhentos contos por um puro-sangue de corridas,

Está certo,

Mas dai dinheiro também para Ouro Preto.

Grãs-finas cariocas e paulistas

Que pagais dez contos por um modelo de Christian Dior

e meio conto por uma permanente no Baldini,

está tudo muito centro,

Mas mandai também dez contos para consolidar umas quatro casinhas de Ouro Preto.

(Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto vos acrescentará…)

Gentes de minha terra!

Em Ouro Preto alvoreceu a nossa vontade de autonomia nos sonhos frustrados dos Inconfidentes.

Em Ouro Preto alvoreceu a nossa arte nas igrejas e esculturas de Aleijadinho.

Em Ouro Preto alvoreceu a nossa poesia nos versinhos do Desembargador.

Minha gente,Salvemos Ouro Preto.

Meus amigos, meus inimigos,

Salvemos Ouro Preto.” 

Manoel Bandeira 1938.