A Igreja está fechada há quase 8 anos e sua portada só não desabou ainda porque uma escora improvisada foi colocada para sustentar o seu frontispício, uma escultura em pedra-sabão atribuída ao Mestre Aleijadinho.

Em Ouro Preto, MG, as chuvas do início do ano de 2022 fizeram emergir questões relacionadas ao risco geológico presente em vários pontos do território do município, do centro histórico aos distritos. Seja pela composição do solo, pela ação das atividades mineradoras ou pela ausência de implementação de medidas de urbanização ou fiscalização, a vulnerabilidade atinge muitas áreas significativamente habitadas da cidade.

Deixando de lado a tensão das famílias ouro-pretanas que tiveram de ser removidas às pressas de suas casas, a ilusão de que o “fantasma do desmoronamento” rondava apenas o território urbano que se expandiu desordenadamente, na periferia, foi definitivamente afastada com o episódio do dia 8 de janeiro. As imagens impactantes do Morro da Forca encobrindo dois imóveis, um casarão neocolonial e um antigo comércio da Praça da Estação, fizeram crescer o temor pela perda de outros bens culturais valiosos e importantes de Ouro Preto.

Um dos monumentos históricos em situação bastante preocupante é a Igreja do Bom Jesus de Matozinhos e São Miguel e Almas, construída em fins do século XVIII, com escultura na portada atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e pinturas internas de Manuel da Costa Ataíde, nos corredores laterais. A igreja foi fechada em 2014 para um processo de restauração que nunca aconteceu. Apesar de sua localização privilegiada, no centro histórico de Ouro Preto, ela também encontra-se rodeada por encostas que, supostamente, podem representar algum risco para a integridade da edificação. A realidade da situação geológica desse terreno é uma incógnita até para os moradores locais, vizinhos do templo. O certo é que estudos já foram feitos e recomendaram obras para a estabilização da encosta, indicando como solução “a execução de grampos ancorados em maciço de baixo grau de fraturamento, baixo grau de alteração e elevada resistência, assim como adequação e complementação dos sistemas de drenagem superficial”.

O vereador Matheus Pacheco, que tem se dedicado a ajudar a encontrar uma solução para esse problema, conta que a viabilização do projeto de restauração depende também da Prefeitura de Ouro Preto e da Paróquia do Pilar. Ele tem sugerido uma união de esforços para pleitear as intervenções necessárias na Igreja junto aos demais órgãos responsáveis. Segundo o vereador, várias representações já foram encaminhadas ao escritório do IPHAN Ouro Preto e, recentemente, ao Diretor de Projetos Especiais do IPHAN, Arlindo Lopes. Matheus, que chegou a ir a Brasília para tratar dessa negociação, explica que “toda vez que estes recursos são pleiteados, os projetos precisam ser atualizados e, agora, a Prefeitura está providenciando, de novo, as atualizações em planilhas e dados para tentarmos, mais uma vez, a liberação”.

Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, garante que a prefeitura “está em dia com a Igreja Bom Jesus de Matozinhos e São Miguel e Almas das Cabeças. Nós estamos intervindo no escoramento do chafariz do adro da igreja, que estava ameaçado de ruir, e estamos providenciando essa operação de conservação do chafariz no aguardo de que a Igreja possa ser totalmente recuperada de acordo com projetos já aprovados”. Segundo o prefeito, a informação que se tem é que “o IPHAN dispõe hoje de orçamento muito reduzido e por isso nós temos sempre justificativas protelatórias, e não uma previsão de início das obras”.

O chafariz mencionado pelo prefeito de Ouro Preto é um monumento feito em pedra do Itacolomi com inscrição que indica ter sido esculpido em 1763. Instalado no adro da Igreja do Senhor do Bom Jesus de Matozinhos, ele fazia parte do sistema de controle e do uso da água dos séculos XVIII e XIX e, por estar localizado à margem de uma encosta em situação geológica incerta, está isolado e escorado por tábuas de madeira há anos.

Victor Stutz, para o Diário de Ouro Preto

Foto destaque: Portada com escultura em pedra-sabão atribuída a Aleijadinho já apresenta rachaduras – Crédito:Marcelino de Castro/Arquivo- Diário de Ouro Preto/2018