Mariana – Na última quarta-feira, 1º/11, a Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) apresentaram um balanço sobre a situação das pessoas que foram e estão submetidas a graves violações de direitos humanos.
Desde 2015, os atingidos de Mariana lutam para a reparação integral dos danos sofridos e o restabelecimento de suas condições de vida. São profundas as alterações provocadas pelo contexto de um “desastre-crime” dessa magnitude, que obrigou pessoas de comunidades rurais a se mudarem para a vida urbana, que as inundam de tarefas indispensáveis para a reorganização dessas vidas já atravessadas por tamanha violência.
Os reassentamentos apesar de ser uma conquista dos atingidos, ainda não alcançou a todos. A reclamação se refere à morosidade da condução do processo, o que gera a frustração e incerteza quanto ao futuro. Eles alegam que foram recorrentes as alterações dos prazos para a conclusão dos reassentamentos e tais descumprimentos jamais foram judicialmente penalizados.
Segundo Luzia Nazaré Mota Queiroz, atingida em Paracatu, o reassentamento não considerou o modo de vida rural da comunidade, ela afirmou que localidade passou a ser considerada urbana, o que impede a produção agrícola e pecuária.
Segundo Luzia, a federalização do processo causou retrocesso, ela acreditava na Ação Cívil Pública movida na comarca de Mariana era mais favorável, pois era possível conversar com o promotor e sabiam como estava a tramitação. “vamos ter que fazer uma campanha para tudo ser resolvido aqui, aí sim a gente volta a ficar feliz”,
Marino D’Angelo Júnior, representante dos atingidos na zona Rural de Mariana, disse que “posso deitar minha cabeça no travesseiro e dormir, porque consegui ajudar muita gente”. Ele explicou que 8 anos nessa luta gera uma sensação de impotência, “apesar de termos conquistas, as coisas não saem do papel na prática, é uma enrolação muito grande do poder público, do judiciário e isso tem hora que dá desânimo, masa gente tem muita força e estamos aí para lutar o tempo que for necessário”.
Saiba Mais – Acostumadas com água em abundância e com uma relação intrínseca com o Rio Doce e seus afluentes, as famílias utilizavam água bruta de córregos, lagos e nascentes. Agora, sem o manejo correto e completo dos rejeitos, é inviabilizado o uso do recurso hídrico, essencial para a retomada econômico-produtiva e garantia do direito à moradia.
A Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), formada ainda em novembro de 2015, é fundamentada na luta pelos direitos dos atingidos de Mariana. Ao longo dos anos de atuação, seu alcance se ampliou, e a CABF se tornou referência na busca pela reparação integral dos crimes cometidos pela mineração. Ainda hoje, um dos desafios enfrentados pela Comissão é o fato de vários núcleos familiares terem pessoas que não são reconhecidas como atingidas, assim como comunidades inteiras também sofrerem com isso e se verem totalmente alheias à reparação.

Por Marcelino de Castro com apoio da Assessoria de Imprensa dos atingidos

Foto: (Roberto Franco/UFMG)